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O número certo de ações em carteira
Tal como a minha avó percebeu, a concentração é perniciosa pois envolve riscos exagerados, por estarmos expostos a eventos não planeados.
.: Ceia de Natal
.: Debate sobre a diversificação
.: Warren Buffett
.: Todos podem
.: Superpoder
00:12 - Ceia de Natal
Para a ceia de Natal, a minha avó estava indecisa entre o bacalhau e o cabrito.
Sabe como é: a turma dos carnívoros não é muito sensível à tradição.
Para não deixar ninguém descontente, a Dona Elisa fez os dois pratos com a mestria habitual.
(Desconfio que) sem ter noção disso, ela diversificou o risco de não ter toda a família a elogiar os seus cozinhados. Algo raro, diga-se.
Mas por que é que lhe estou a contar isto?
01:03 - Debate sobre a diversificação
Existe um debate perene no mundo das finanças sobre a diversificação.
Dentro da teoria tradicional, o assunto rendeu o prémio Nobel a Harry Markowitz.
A ideia do economista poderia ser resumida pelo cliché de não se colocarem todos os ovos na mesma cesta.
A partir da escolha de ativos negativamente correlacionados, ou seja, que não se movem na mesma direção (a bolsa sobe, o euro cai), o investidor poderia reduzir o risco do seu portfólio, para o mesmo retorno esperado.
Na praxis, a diversificação traria eficiência ao portfólio do investidor.
02:12 - Warren Buffett
Do lado oposto da barricada, aparece Warren Buffett e a sua defesa pelo investimento concentrado.
Buffett é, possivelmente, o maior investidor em ações de todos os tempos.
Se ele fala, nós baixamos as orelhas.
De acordo com o megainvestidor, uma maior diversificação implica um aumento dos riscos da carteira, e não redução, conforme pressupõe o mecanicismo de Markowitz.
Ao diversificar em vários ativos, o investidor acaba por sair do seu círculo de competências e expõe-se a ativos/empresas sobre os quais dispõe de pouca ou nenhuma vantagem informacional.
Ou seja, acaba por comprar algo que não compreende e, assim sendo, está sujeito a riscos que o próprio desconhece.
03:09 - Todos podem
Qual é a minha visão sobre o tema? Como em tudo na vida, no meio está a virtude.
Markowitz está certo sobre a necessidade da diversificação, mas o seu modelo está errado do princípio ao fim.
E Buffett, por sua vez, pressupõe que podemos saber mais do que os outros ou, pelo menos, sobre a empresa em que vamos investir.
O problema é que, se nós podemos, todos os outros investidores também podem.
04:01 - Superpoder
Eu adoraria acreditar que disponho de um superpoder que me diferencia do resto da comunidade financeira. Quase de certeza, porque ainda não fui picado por uma aranha ou exposto a um teste nuclear.
Haverá sempre um ex-diretor da GALP que entenderá mais do que eu sobre o setor petrolífero (obviamente, isto é só um exemplo… pode transpor o argumento para todos os setores).
Tal como a minha avó percebeu, a concentração é perniciosa pois envolve riscos exagerados, por estarmos expostos a eventos não planeados.
Ao fazer apenas uma iguaria, a Dona Elisa arriscava-se a desagradar a várias pessoas.
A diversificação é o caminho em bolsa por evitar exposição excessiva a um evento raro negativo e por permitir que estejamos expostos para capturar o perfil convexo das ações.
Pedro Gonçalves, Editor-chefe
Pedro Gonçalves foi Portfolio Manager no Millennium Investment Banking. É licenciado em Finanças pelo ISCTE – Business School e mestre em Gestão pela Universidade Católica Portuguesa. Atualmente, é editor-chefe da Empiricus Portugal.
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